Parecia ter ouvido gemidos que reflectiam dor e tristeza… lamentações… Foi uma sensação estranha e arrepiante. Por momentos reflecti com racionalidade e conclui que só poderiam ter sido ecos dos cânticos gregorianos que ainda se ouviam cá fora.
Mas isso foi uma explicação momentânea e lógica. Mais tarde vim a saber que aqueles túmulos tinham sido profanados aquando das invasões francesas. Qual a leitura que deveria ter feito? Fiquei sem saber… mas sem dúvida que é mais confortável acreditar na racionalidade, naquilo que parece mais lógico e mais simples.
Caminhei até à Sala dos Reis e fiquei por ali alguns momentos, tentando recuperar do sobressalto. A sala estava cheia, caminhei por entre as pessoas, olhando as pinturas nas paredes. O meu olhar deteve-se numa pintura que representava a coroação, simbólica, de D. Afonso Henriques, pelo Papa e por S. Bernardo. Segundo explicação de uma funcionária do Mosteiro, esta coroação nunca poderia ter sido real, porque S. Bernardo não se encontrava em Portugal por essa altura, uma vez que o seu estado de saúde era débil. A pintura espelhava o agradecimento da Ordem Cistercense para com D. Afonso Henriques.
Depois caminhei pelo claustro do Mosteiro e deslumbrei-me com a sua beleza.
A minha atenção focou-se numa porta muito estreita que se encontrava no refeitório. Abordei uma funcionária do Mosteiro e questionei-a sobre aquela porta. Segundo ela, todos os frades, antes de tomarem a sua refeição, tinham de passar por um prova: entrar por aquela porta. Aquele que não conseguisse entrar, não comia! Claro, que é uma lenda que vai passando de geração em geração e que está associado ao pecado da gula.
Fiquei pelo Mosteiro mais algum tempo descobrindo pequenos recantos e aproveitando ao máximo a minha visita.
Quando terminei, tomei o mesmo caminho de regresso, pela Igreja e senti que alguém me seguia. Parei o olhei para trás… mas vi a nave lateral vazia e apenas os cantos gregorianos enchiam o espaço. Dei mais uns passos e detive-me novamente. Estava certa de que alguém se encontrava por perto e me olhava. Passei para a nave central… e estranhamente, também esta se encontrava vazia… No entanto continuava a sentir que alguém me observava, de perto… como se a sua respiração se misturasse com a minha. Acelerei o passo até alcançar a porta e sentir o sol no meu rosto.
Olhei para trás, pela última vez, a Igreja estava repleta de turistas…
(Continua)
1 comentários :
Estou gostando do modo como escreve e já estou curiosa pela continuação.
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